Novo episódio de Matrix cria expectativa entre cinéfilos e filósofos

20/12/2021 13:45
São muitas as vezes nas quais um filme desperta a atenção e o
 debate de filósofos (das universidades ou da vida, todos são
 bem-vindos), porque lidam com algum tema relacionado à ética,
 à estética ou à política. Muito mais raro, no entanto, é que um
 blockbuster de ação da grande indústria de Hollywood possa
 suscitar algum tipo de questão metafísica. Mas é justamente
 o que a série Matrix faz, desde o primeiro filme da franquia, 
que estreou na virada do milênio, em 1999, protagonizado por 
Keanu Reeves e Carrie Anne-Moss.

 
Matrix foi considerado uma revolução, porque conseguiu unir o 
sucesso estrondoso de público com o respeito da mídia especializada,
 o que é bastante difícil de acontecer. O filme, ao mesmo tempo
 em que lidava com questões sensíveis para o imaginário da época,
 inovava nos efeitos especiais e nas cenas de ação, além ainda
 de influenciar a moda, com os estilosos terninhos e óculos escuros 
de heróis e vilões. A atmosfera cool, com muitas cenas indoor, 
paleta discreta de cores e iluminação sombria, remetia aos filmes 
noir dos anos 1940 e 1950 (a impressão é que não chamaram 
Humphrey Bogart para o elenco, menos pelo fato de ele já
 estar morto - afinal quase tudo se pode na programação da Matrix -
 e mais porque ele não poderia fumar seus cigarrinhos).

 
Já as duas sequências, exibidas num intervalo de seis meses
 em 2003, não tiveram o mesmo sucesso nas bilheterias e sofreram 
com avaliações negativas dos críticos. Uma espécie de consenso 
entre os fãs é que a repetição dos maneirismos propostos no primeiro
 filme acabou por suplantar a narrativa e, principalmente no caso do
 terceiro, o roteiro se perdeu em aporias, que foram mal disfarçadas 
pela ênfase cada vez maior nas cenas de ação.

 
Agora, no entanto, nesse 2021 praticamente pós-pandêmico, 
passadas duas décadas em hibernação, os heróis Neo e Trinity estão
 com data marcada para voltar às telas no próximo dia 22 de dezembro.
 A direção continua com as irmãs Wachowski, Lilly e Lana. A simples 
divulgação do trailer, com os mesmos atores principais, já vem causando
 muita expectativa, e mais uma vez em dois universos que quase 
sempre são incompatíveis: os fãs se apressam para comprar seus 
ingressos, tiram a poeira dos bonequinhos e separam o dinheiro da pipoca,
 enquanto intelectuais e acadêmicos agendam as conferências e se 
preparam para os pedidos de entrevistas, num efeito que repete o lançamento 
da série original.

 
Embora muitos filósofos, comunicólogos, psicanalistas e sociólogos
 tivessem se debruçado sobre os filmes dos anos 2000, três deles 
estiveram no centro das atenções. As próprias diretoras foram
 responsáveis por apontar como o principal influenciador da obra,
 o francês Jean Baudrillard, principalmente por meio do livro 
Simulacros e Simulação (Editora Relógio D’Água, 1991). 
 
Baudrillard chegou a ser convidado para orientar o argumento das 
continuações, mas declinou. Ele na verdade não gostou do primeiro
 episódio, e declarou numa entrevista que "Matrix é certamente o tipo
 de filme sobre a matriz que a matriz teria sido capaz de produzir".
 
 Baudrillard criticou a ausência de ironia em Matrix, e de ter se
 tomado os princípios de "simulacro" e "simulação" a partir das 
categorias da realidade.
 
Žižek, parte de um princípio parecido. Ele tem um livro lançado
 em 2002 e traduzido para o português em 2003 pela Boitempo
 Editorial que trata sobre uma série de questões filosóficas
 e políticas sob o prisma do filme. O título é justamente a 
mais famosa fala do primeiro episódio, quando o personagem
 Morpheus, o iniciador de Neo, lhe dirige um "Bem-vindo ao 
deserto do Real!". Neste livro, o filósofo esloveno lida
 com os principais fatos da virada do milênio, principalmente 
os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, buscando
 inseri-los na perspectiva do espírito da época desdobrada a partir 
da sensibilidade das Wachowski, por meio de sua exótica e potente
 mistura de filosofia hegeliana e psicanálise lacaniana.
Curiosamente, uma coletânea do filósofo norte-americano William
 Irwin (nascido em 1970) tem o mesmo título do livro de Žižek 
(com exceção do ponto de exclamação). Bem-vindo ao deserto do
 Real (lançado no Brasil pela Madras em 2003), por sua vez é um
 mergulho no filme, de uma maneira mais particularizada. 
 
Ele procura em suas quase 300 páginas dissecar os diálogos, desvendar
 as cenas, sem as mesmas derivações de sua obra quase homônima,
 e só então, a partir disso, buscar os componentes de reflexão sobre a 
época conturbada do lançamento.
 
Agora, teremos uma nova oportunidade, mais uma vez dada por 
Matrix para, como na série inicial, nos divertir com a ação e os efeitos
 especiais, mas não só isso: parar por um momento e pensar. 
Passados 20 anos, entramos na era da velocidade de conexão 
5G, do reconhecimento facial, os supercomputadores quânticos, 
do metaverso. As redes sociotécnicas comandam nosso cotidiano,
 e as fakenews são uma questão definidora para a sobrevivência 
das democracias como as conhecemos. Se nos primeiros episódios
 muitos desses elementos que ainda surgiriam foram adiantados, o que
 esperar agora? O que a Matrix vai nos dizer a respeito das próximas
 décadas? Nem é preciso dizer: basta ver o trailer e ninguém vai resistir à 
pílula vermelha.
 
Vinicius Prates é jornalista e professor do Centro de Comunicação e 
Letras (CCL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
 
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
 
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre 
as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa
 QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização
 internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de 
instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. 
 
Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville
 e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam 
Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação 
Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas 
Estrangeiras.
 
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. 
Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores 
confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
 
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RICARDO MARUJO (JORNAL1 E TV GUARULHOS)

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